Coloque-se diante da sede de um clube social negro estabelecido na fronteira Brasil-Uruguai que alcança em 2018 a marca de cem anos de existência e se pergunte: O que posso aprender com as pessoas que fizeram e fazem esse lugar possível? Que ensinamentos emergem do vivido dentro e fora desse espaço?
As respostas, inevitavelmente, terão de lidar com a força do racismo no estabelecimento de práticas de sociabilidade num passado ainda presente. Mas isso é apenas parte do exercício reflexivo. Tenha em mente que a medida da humanidade negra não é dada nem pela sua negação, nem pela contestação dessa violência. Quando, em 1918, um grupo de homens e mulheres negros/as somaram esforços para fundar o Clube 24 de Agosto, em Jaguarão, isso foi muito mais que uma reação aos constrangimentos e à exclusão dos bailes e espaços de lazer da gente branca. Esse ato teve como base um valor que antecedia e extrapolava diversas formas de discriminação. Aquelas pessoas entediam que o direito à felicidade e à liberdade de ser e estar no mundo era algo fundamental às suas existências. Contar com o clube era uma maneira de proteger uma herança legada por gerações. E esse modo sofisticado de existir segue sendo atualizado e fazendo bastante sentido, justificando as comemorações deste primeiro centenário!
Por Ana Flávia Magalhães Pinto,
ativista dos Movimentos Negro e de Mulheres Negras,
professora do Departamento de História da UnB.
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